Pessoas com deficiência e acessibilidade na web

Victor Hermes
6 min readSep 27, 2019

Pessoas com deficiência e acessibilidade na web

Pessoas com deficiência. Um assunto tão importante quanto política ou futebol, mas que com certeza não se mostra em evidência nas conversas entre amigos, e muito menos em discussões na internet, onde se fala sobre tudo mas sobre nada. Nada relevante ao menos. Ao menos na maioria das vezes. Para tentar sensibilizar e dar ciência sobre o fato, reúno abaixo alguns dados chocantes, mas sem dúvidas, relevantes sobre deficiência e acessibilidade.

Dados globais

Segundo a ONU, há 1 bilhão de pessoas com algum tipo de deficiência no mundo. Em outras palavras, a cada 7 pessoas, 1 tem algum problema. Além disso, a ONU alerta que 80% das pessoas com deficiência vivem em países desenvolvidos ou em desenvolvimento, e que 150 milhões de crianças abaixo dos 18 anos, têm alguma deficiência, segundo dados da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância).

Levando em consideração todos os números, uma pessoa com deficiência tem em média 1 terço da renda a mais no custo de vida, bem como para completar a escola primária, 60% das crianças conseguem concluir essa etapa em países desenvolvidos, enquanto 45% dos meninos e 32% das meninas finalizam a escola primária em países em desenvolvimento. Continuando a expor os dados, mais de 50% das pessoas com deficiência em 51 países não conseguem arcar com os custos de um serviço de saúde.

Dados no Brasil

Já no Brasil, de acordo com o Censo de 2010, 46 milhões de brasileiros possuem certo grau de dificuldade, seja para enxergar, ouvir, caminhar, subir degraus, deficiência mental ou intelectual. Já as pessoas com dificuldades parcial ou total nas habilidades para enxergar, caminhar, ouvir ou subir degraus, há mais de 12,5 milhões de brasileiros, o que corresponde a 6,7% da população.

Porcentagem da população, por tipo e grau de dificuldade e deficiência (Brasil — 2010)

Considerando o gráfico acima, a deficiência visual atingiu grande parte da população, chegando a 18,8% com alguma dificuldade e 3,4% com grande dificuldade ou total; a deficiência motora 7,0% das pessoas tinham dificuldades com os movimentos, e 2,3% com grande dificuldade ou total; deficiência auditiva em 5,1% com certas dificuldades e 1,1% com maiores dificuldades. E para concluir, a deficiência mental ou intelectual com 1,4% das pessoas.

Realmente são muitos números e dados técnicos, mas o único dado que é importante deixar em mente é que existem 1 bilhão de pessoas no mundo com algum tipo de deficiência, 1 bilhão de pessoas que enfrentam dificuldades, seja para dar uma volta na rua com calçadas impróprias, ou assistir algum conteúdo de entretenimento que não possui legendas. De fato há muitas barreiras para serem quebradas, e uma dessas barreiras se encontra nas tecnologias, como a internet.

Acessibilidade na Web

“Acessibilidade na web significa que pessoas com deficiência podem usar a web. Mais especificamente, a acessibilidade na web significa que pessoas com deficiência podem perceber, entender, navegar, interagir e contribuir para a web. E mais. Ela também beneficia outras pessoas, incluindo pessoas idosas com capacidades em mudança devido ao envelhecimento”. — W3C Brasil

Melhor exemplificando a citação acima, acessibilidade, principalmente na web, é a possibilidade em igualdade de prover de forma segura e autônoma a maneira como a internet é acessada, ou seja, que uma pessoa com certo grau de deficiência possa fazer tal ação de maneira autossuficiente, sem depender de outra pessoa.

Trabalhando por uma web mais acessível, é possível que as oportunidades sejam ampliadas, e que o acesso à informação seja para todos, que qualquer pessoa, independente da deficiência, possa acessar algum dos sites e serviços disponíveis na web sem maiores complicações.

“Para a maioria das pessoas, a tecnologia torna a vida mais fácil. Para uma pessoa com necessidades especiais, a tecnologia torna as coisas possíveis” — Jorge Fernandes e Francisco Godinho

Talvez a ideia sobre acessibilidade na web estava um pouco abstrata, e para deixar tudo mais claro, reuni alguns tópicos de dentro da cartilha do W3C Brasil contendo as situações com qual as pessoas com deficiência podem estar inseridas:

  • não ter a capacidade de ver, ouvir ou deslocar-se, ou ter grande dificuldade, quando não mesmo a impossibilidade, para interpretar determinados tipos de informação;
  • ter dificuldade para ler ou compreender textos;
  • não ter um teclado ou mouse, ou não ser capaz de utilizá-los;
  • ter uma tela que apresenta somente texto, uma tela de dimensões reduzidas ou uma ligação muito lenta com a Internet;
  • não falar ou compreender fluentemente a língua em que o documento foi escrito;
  • ter as mãos, os olhos ou os ouvidos ocupados, ou de outra forma solicitados (por exemplo, ao volante a caminho do trabalho, ou trabalhando num ambiente barulhento);
  • ter uma versão muito antiga de um navegador, um navegador completamente diferente dos habituais, um navegador por voz, ou um sistema operacional menos comum

Assim, a partir de uma web acessível, muitos cenários aparentemente improváveis tornam-se possíveis, não só para pessoas com deficiência, mas também para qualquer categoria de usuário, tais como:

  • Uma mulher cega, utilizando um leitor de telas, pesquisa a restituição de imposto de renda no site da Receita Federal;
  • Um homem cego e sem braços procura sua ex-professora em um sistema de busca utilizando um programa de reconhecimento de voz para entrar comandos no computador e receber retorno a partir do leitor de telas;
  • Um homem com paralisia cerebral, com grandes dificuldades motoras e que só utiliza um dedo para teclar, atualiza seu perfil em uma rede social;
  • Um homem com deficiência motora, que usa um mouse adaptado, faz compras em uma loja virtual;
  • Uma jovem tetraplégica, utilizando apenas um ponteiro na cabeça, procura informações sobre células-tronco em sites especializados;
  • Uma mulher com deficiência intelectual faz exercícios pela web para melhorar sua comunicação;
  • Uma mulher com baixa visão procura informações sobre investimentos e a crise econômica mundial, utilizando um programa ampliador de tela;
  • Um programador daltônico testa uma aplicação na web, procurando erros;
  • Um jovem surdo ou com deficiência auditiva que faz um curso de inglês à distância.
  • Uma jovem com dificuldade de leitura, em virtude da combinação de transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) e dislexia, estudante do ensino médio, que gosta das aulas de literatura, complementa a leitura de livros e estudos por meio de aulas on-line. Ela utiliza um programa que realça o texto na tela, ao mesmo tempo em que é realizada uma leitura em voz alta.

Para ilustrar melhor a importância da acessibilidade em diferentes contextos de uso da web, a seguir são apresentados alguns cenários em que pessoas sem deficiência são beneficiadas e usuárias diretas da acessibilidade:

  • Homem destro, com tendinite, faz pesquisa na web para trabalho da faculdade, utilizando com dificuldades o mouse, mas navegando com a mão esquerda sem encontrar barreiras de teclado na página;
  • Mulher analfabeta funcional tenta tirar uma certidão no site da prefeitura da sua cidade, acessando informações representadas por ícones na página;
  • Casal de idosos, já com alguma dificuldade para ler textos pequenos e que possui pouca experiência com a Internet, amplia o tamanho do texto para comprar passagens aéreas em promoção para visitarem o filho em outro estado;
  • Leigo no uso de computadores vê-se obrigado a usar a Internet para realizar a matrícula escolar de seu filho, seguindo as orientações de um tutorial de uso do sistema;
  • Brasileiro, sem fluência no espanhol, procura informações sobre Buenos Aires em um site de língua espanhola acessando as galerias de fotos;
  • Criança, ainda com linguagem em desenvolvimento, procura um jogo na web em uma página com animações que identificam o jogo que ela procura;
  • Robôs de busca, como o Yahoo, Google, Bing etc., que só indexam texto, procuram sites com informações sobre a Copa do Mundo no Brasil baseados na semântica dos documentos HTML;
  • Funcionário novo na empresa utiliza pela primeira vez um sistema de gerenciamento de projetos via web depois de assistir a um tutorial de uso do sistema;
  • Homem de meia-idade aumenta a fonte dos textos de um site ao navegar pelo seu netbook com tela de apenas 9 polegadas;
  • Utilizando conexão de baixa velocidade, mulher tenta comprar um eletrodoméstico em um site de comércio eletrônico construído e estruturado de forma a consumir pouca banda da Internet;
  • Usuário procura os horários da sessão de cinema em seu tablet com tela de 7 polegadas e aumenta e diminui o tamanho do texto conforme sua necessidade de navegação;
  • Mulher atrasada tenta fazer check-in pelo site da companhia aérea utilizando seu smartphone no táxi, a caminho do aeroporto, em um formulário simples e de fácil compreensão;
  • A caminho de uma reunião, utilizando seu smartphone, homem utiliza o sistema de busca de um site web para localizar o endereço da sede da empresa.

Referências bibliográficas:

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